Sou mais uma órfã de Michael Jackson. Desde pequena o adorava. Sua voz, sua dança, seu sorriso infantil. E sem saber, eu o amava como ser humano também. Já comprei muita briga para defender seu nome. Talvez nunca saiba a verdade sobre o homem por trás do ídolo, mas sempre preferi acreditar nos olhos de Michael.
Mas agora chega. Já o sugamos demais em vida. Que Michael Jackson, livre da carcaça de Rei do Pop possa, finalmente, descansar em paz.
libertou-se o menino
por Clóvis H. Lindner
Livre. Finalmente o pequeno menino negro aprisionado no corpo do astro pop deformando e ensandecido pode voar para a sua Nerverlândia imaginária, agora real. O pequeno prodígio havia sido aprisionado naquele corpo por causa do seu talento.
Meio século de insuportável. O ícone da pós-modernidade, rei do pop, o insuperável, inimitável e inatingível astro sufocou na angústia do seu pequeno ser, ainda tão inocente, tão bonito, tão angelical quanto antes.
Michael foi vitimado pela sua própria perfeição e morreu de fadiga; na insana tentativa de superar o insuperável, ou seja: ele mesmo. O pequeno príncipe havia sido engolido pelo próprio astro em que vivia.
Agora, está finalmente livre o menino. O que o mundo vela em Los Angeles é a fétida carcaça zumbi do rei do pop; do ídolo amalgamado pelas deformidades insanas da humanidade consumista. O menino não está mais lá. Jaz um corpo disforme, alvejado e plastificado pelo insaciável monstro capitalista, ele memo, um zumbi que se nega a morrer. O que enterramos não tem mais uma única gota de sangue, de vida, de dignidade. Tudo, absolutamente, tudo, foi avidamente sugado de seu interior.
O menino Michael se foi, para fazer a alegria dos celestes corais de anjos infantes. Agora, além de cantar glórias a Deus, eles dançam sobre as nuvens nos passos domoonwalker. E se riem da tragédia que foi esse meio século daquele menino negro, agora entre eles. Riem-se também dos milhões que continuam brincando com o zumbi morto e dele ainda irão recolher incontáveis sacolas de dólares que continuarão jorrando como rios, do seu interior. Elvis não morreu. Michael também não morrerá. O astro-monstro sabe disso.
O que se foi é o menino. Livre ! Liberto para viver num lugar digno na memória das gerações. Como no " Retrato de Dorian Gray", ao lado do quadro de um lindo menino negro de cabelo blackpower, jaz agora o decrépito corpo de um astro pop, deformado e envelhecido. Podem colocá-lo no formol, porque o menino não está mais nele.
Vai em paz, Michael ! Finalmente está livre.
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