Tirei o (codi)nome “moça deitada na grama” de uma crônica do Drummond, para quem não sabe. É a crônica de que mais gosto do nosso delicioso mineiro acariocado. Segue um trecho, para deixar um gostinho de quero mais... Quem quiser ler, na íntegra, essa e outras crônicas ótimas, procure o livro “Moça deitada na grama”, editado pela Record (1987) e com capa do (chiquerésimo) Niemeyer.
moça deitada na grama
Carlos Drummond de Andrade
A moça estava deitada na grama.
Eu vi e achei lindo. Fiquei repetindo para meu deleite pessoal: “Moça deitada na grama. Moça deitada na grama. Deitada na grama. Na grama.” Pois o espetáculo me embevecia. Não é que qualquer coisa me embevece, a esta altura da vida. A moça, o estar deitada na grama, àquela hora da tarde, enquanto os carros passavam e cada ocupante ia ao seu compromisso, à sua alegria ou à sua amargura, a moça e sua posição me embeveciam.
Não tinha nada de exibicionista, era a própria descontração, o encontro do corpo com a tranqüilidade, fruída em estado de pureza. Quem quisesse reparar, reparasse; não estava ligando nem desafiando costumes nem nada. Simplesmente deitada na grama, olhos cerrados, mãos na testa, vestido azul, sapatos brancos, pulseira, dois anéis, elegante, composta. De pernas, mostrava o normal. Não era imagem erótica. (...)
Resolvi parar um pouco, encantado. Queria ver ainda por algum tempo a escultura da moça, plantada no parque como estátua de Henry Moore, uma estátua sem obrigação de ser imóvel. E que arfava docemente. (...)
Eis que se aproxima um guarda, inclina-se, toca no ombro da moça. Ela abre os olhos, sorri bem disposta:
- Quer deitar também? Aproveita a tarde, tão gostosa.
Ele se mostra embaraçado, fala aos pedaços:
- Não moça... me desculpe. É o seguinte. A senhora... quer fazer o favor de levantar?
- Levantar por quê? Está tão bom aqui.
(...)
Resolvi parar um pouco, encantado. Queria ver ainda por algum tempo a escultura da moça, plantada no parque como estátua de Henry Moore, uma estátua sem obrigação de ser imóvel. E que arfava docemente. (...)
Eis que se aproxima um guarda, inclina-se, toca no ombro da moça. Ela abre os olhos, sorri bem disposta:
- Quer deitar também? Aproveita a tarde, tão gostosa.
Ele se mostra embaraçado, fala aos pedaços:
- Não moça... me desculpe. É o seguinte. A senhora... quer fazer o favor de levantar?
- Levantar por quê? Está tão bom aqui.
(...)
3 comentários:
Levantar para quê?
Cadê o resto do texto?? KK, Me desculpe se você me achar grossa, mas é que esse é o melhor site que eu achei e eu precisava do resto do texto, o texto inteiro, a minha professora me passou para leitura o texto fez perguntas e eu estava tirando as minhas dúvidas no texto do site para as perguntas mas eu gostaria dele inteiro mesmo assim, obrigada pelo resumo... Atenciosamente, Eu
Boa tarde "Eu",
Obrigada pela visita e pelo elogio ao meu blog, fico contente que tenha se interessado. Sobre o Drummond, não é um resumo, mas sim um trecho. Não entendi o que você quis dizer com tirar dúvidas do texto aqui no blog. Por curiosidade, quais dúvidas você tirou aqui? :-) A sua professora indicou o texto para para leitura e você não o encontrou, é isso? Bem, eu gosto de pagar direitos autorais, pagar pelo livro (e pelo cd, dvd...) e por isso não postei o texto inteiro. Numa rápida busca no google encontrei um link que oferece o texto na íntegra. Bem, espero que você se encante com nosso querido Drummond, e que ele te ajude e te inspire a viver com arte. Se quiser conversar sobre literatura, estamos aí :-)
o link: http://thirdbvespa.wordpress.com/2011/08/21/moca-deitada-na-grama/
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