sexta-feira, 23 de outubro de 2009

na crônica, eu acho

Tive uma professora de português que dizia que numa redação não poderíamos dizer o que “achávamos” sobre determinadas coisas. O correto seria dizer o que “pensávamos”. Hoje eu concordo com ela, mas na redação. No colégio, quando dissertamos sobre algo, devemos expôr nossos pensamentos e não nosso “achismos”.

Na época que a professora Eliane me corrigia nós não sabíamos que eu ia ser uma escritora (acho que já posso dizer que sou, né?). Sempre me senti bloqueada com isso. A minha crônica tem uma estrutura bem próxima da redação escolar, uma média de 3 a 4 parágrafos. E redação para mim está a um passo da crônica.

Comecei a me expressar literariamente com a poesia. Mas foi na crônica onde eu comecei a me encontrar. Talvez por ser um diálogo do eu com o eu-lírico. Uma linha de raciocínio que se desenvolve no papel e de repente vira crônica. Todo mundo deveria ser cronista. Economizaria uma grana de análise.

Obrigada, professora Eliane, por prezar pelo bom português, ter me apresentado Álvares de Azevedo (olha gente, a culpa é dela, viu!!), João Ubaldo Ribeiro (“A casa dos budas ditosos” como livro extra-classe foi inesquecível!!!) e, conseqüentemente, outros escritores que eu não leria se não fosse essas leituras. Mas uma coisa você tem que dar o braço a torcer: na crônica eu posso “achar”. Na crônica eu acho e me acho... E, ah! Eu continuo escrevendo com letra separada...

sábado, 10 de outubro de 2009

niemeyer

.
Escuto e danço enquanto
admiro o ritmo desses traços,
que ondulam e contornam nossa
terra natal. Sua obra flamula ao vento,
firme, tremendamente graciosa, im-
ponente. Um lápis em sua mão,
é mais revolucionário que a
revolução russa; mais
modernista que Macuna-
íma, que a poesia de Décio
Pignatari, somada à de Oswald
Andrade. Um lápis em sua mão, é a
profecia de uma ruptura; sua arquitetura
sempre nova tirou o latim de nossas
igrejas, fez tudo lembrar as praias
cariocas, onde quer que sua
arte esteja. Além de
você, só Deus, para es-
crever certo por linhas tortas.
mas não o chamarei de senhor,
pois como seus traços, você é eter-
namente jovem. Sua arte tem sotaque
do Rio de Janeiro! E se, vita brevis,
Sua arquitetura é ars longa
E a mim, só resta dizer:
Niemeyer, como eu,
também é bra-
sileiro!


Deborah O'Lins de Barros
poema composto em 2007, em homenagem aos 100 anos do grande arquiteto, Oscar Niemeyer

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

minha fantasia sexual é assexuada


Minha fantasia sexual é assexuada

Sou uma prostituta culta, que vive nas ruas de Boston em 1847. Bebo num bar de quinta categoria quando percebo ao meu lado, Edgar Allan Poe, completamente bêbado, recitando, entre soluços, “O Corvo” e chorando sua Virginia que acaba de falecer. Me aproximo e puxo assunto, depois de recitar com ele o poema que li num jornal de 1845. Poe se agrada de minha companhia e conversamos a noite inteira.

Eu o ajudo a chegar a sua casa e memorizo o caminho. Passo a freqüentá-lo, com a desculpa de querer aprender sobre literatura, mas sendo sempre seus ouvidos atentos e seu ombro amigo. A estranha amizade dura, a despeito da vizinhança hipócrita. Se eu transo com Edgar Allan Poe? Sei lá, nunca pensei nessa parte. O mais importante é que, sim, eu o salvaria de morrer na sarjeta, em 1849.

Deborah O’Lins de Barros
Itajaí, 31/08/2009