segunda-feira, 28 de junho de 2010

textinho de segunda - bola de cristal

bola de cristal

Foi ao cardiologista. Ao clínico geral. Garantiu que os filhos não se machucariam. Que o telefone não tocaria. Que amigos e parentes não fariam visita. Mas não pode prever a dor de barriga horrível, bem na hora do jogo do Brasil.

Deborah O'Lins de Barros
28/06/2010

sexta-feira, 25 de junho de 2010

terra do sempre


Era uma vez uma criança triste, mesmo fazendo o que mais gostava. E depois, era uma vez uma criança feliz, mesmo não podendo fazer o que mais gostava.

Um dia a criança feliz ficou triste porque a criança triste morreu. Mas depois compreendeu que a criança triste agora estava feliz. E ficou feliz também.

Deborah O'Lins de Barros
16/06/2010



sexta-feira, 18 de junho de 2010

hoje não tem modernidade

Hoje eu falaria da modernidade e um novo conceito de "perto-longe". Não sei se alguém está acompanhando meus mini-ensaios, mas hoje não vou publicar nada sobre modernidade. José Saramago, escritor português, ganhador do Nobel da Literatura, autor do conhecido "Ensaio sobre a cegueira", faleceu hoje. Sempre me achei crua para ler seus livros. Mas sempre tive curiosidade de ler o famoso "Ensaio". No documentário "Janela da Alma" seu depoimento é essencial para entendermos o que é olhar, o que é ver, o que é enchergar, o que é ser cego. Por isso, repito: hoje não vou publicar nada sobre modernidade. José Saramago era a modernidade. E por muito tempo ainda será.

Saramago, quando chegar ao céu dos escritores, mande um abraço ao Neruda, por mim.

Deborah O'Lins de Barros
18/06/2010

segunda-feira, 14 de junho de 2010

textinho de segunda - for you to tube

for you to tube

A repórter diz para a câmera:
- Agora para exemplificar o que os sociólogos disseram sobre a falta de criatividade das crianças dessa nova geração, vamos entrevistar aqueles três garotos que estão jogando bola ali. ...Oi, vocês podem falar com a gente?
Eles chegam perto. Ela pergunta:
- Qual é o seu nome?
- Eu sou o Açúcar.
- Açúcar?
Um segundo interrompe.
- Ele é branco como açúcar...!
- Ahn... e o seu nome?
- Leite.
E o terceiro menino diz:
- O leite é branco como açúcar...!
- ...E você, como chama?
- Tomate. Sou branco como açúcar e leite, mas como sou gordo, quando vou à praia fico igual a um tomate.
Leite indaga:
- O que você queria perguntar pra gente, tia?
A mulher, sem graça, responde:
- Não... nada...
Vira para a câmera e diz:
- É com você, William.

Fim

Deborah O'Lins de Barros
09/06/2010

sexta-feira, 11 de junho de 2010

sobre a modernidade [2]

a modernidade na literatura

A literatura hoje tem um conceito que beira a incógnita. A teoria nos apresenta os recursos que sempre foram utilizados, há um frequente revisitar de temas. Mas uma coisa muito divertida na contemporaneidade é o romance pseudo-histórico, que preenche as lacunas de uma quase biografia com... ficção. Eu uso isso*¹, Jô Soares usa isso*², o autor do livro que estou lendo*³ usa isso.

A poesia é mais livre. Brincar com os estilos literários é algo que hoje não é mais passível de preconceito. Há modas, claro, e o novo é sempre bem-vindo. Mas o que é o novo? Na minha opinião a literatura estupidamente nova ainda não foi inventada. Essa geração de blogs ainda engatinha. Mas um dia chegamos lá. Isso, claro, quando soubermos onde é .

...e já que eu falei de blogs, o próximo tema será "a modernidade e o novo conceito de perto-longe"
.
Deborah O'Lins de Barros
11/06/2010
.
*¹ no meu roteiro sobre o poeta Álvares de Azevedo, "Sturm un Drang - o romantismo é feito de quases"
*² no livro "O homem que matou Getúlio Vargas"
*³ Matthew Pearl, "A sombra de Allan Poe"

segunda-feira, 7 de junho de 2010

textinho de segunda - mail-up-éia para Cruzes Sousa

mail-up-éia para Cruzes Sousa

aveludada vulva,
vulva velada...
mas o velado poeta
preferiria dedicar
seus impublicáveis versos
a uma vulva depilada.

Deborah O'Lins de Barros
28/05/2010

*melopéia é um recurso na literatura onde a melodia é a vedete, no caso desse poema usei a aliteração para criá-la.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

sobre a modernidade [1]

a modernidade e a palavra

Já foi o tempo dos trocadilhos de Oswald de Andrade e das palavras desmembradas de Décio Pignatari. Mas não foi inventado nada mais novo que isso; o que faço e o que fazem são variações, da mesma forma que recriam há séculos o mito do amor impossível de Tristão e Isolda. Também faz tempo que circula por aí a novilíngua duplipensada, de George Orwell*¹. Um exemplo? Irado: 1. quem tem raiva, ira; 2. algo muuito legal. Então o que há de novo na palavra?

Já que todos os temas já foram expostos e desenvolvidos à exaustão, se já sabemos como a história vai terminar, o que interessa não é mais o que contamos, mas como contamos. Na internet temos uma infinitade de formas que podemos utilizar para expressar como nos sentimos. E o mais interessante é que elas são em "cyber-esperanto". Estou feliz vira :-) estou muito feliz vira :-D e assim vai. Acho que o que a modernidade fez com a palavra foi transportá-la a um nível de não-palavra, se é que me entendem. Quer dizer, posso usar três sinais de pontuação e qualquer pessoa pode "ler" como estou. Esse é o como. A palavra está muito mais livre, mas cabe a nós saber como direcioná-la e extrair o melhor desse recurso.

Falando nisso o próximo tema será esse: a modernidade na literatura.

*¹ no livro "1984"

Deborah O'Lins de Barros
04/06/2010