terça-feira, 28 de abril de 2009

"das antiga"

Resolvi resgatar um poeminha das antigas hoje. A idéia era que virasse uma música, mas não sou compositora. Nem sei se pensava nisso na época, mas de qualquer forma, a única melodia que tento dominar é a melopéia heheh. Segue então,"Bizarro". Divirtam-se :-)

Bizarro

Cale a sua boca pífia
Até melhorar da sua carraspana
Você se acha o tal, mas ninguém te agüenta mais

Você é nobre, valente, brilhoso,
Elegante, extravagante, garboso,
Esquisito e diz-se do sexo feito com animais.

Você é cínico e quer que eu também sorria
Quer que eu ande com a gentalha que você anda
Você se acha o tal, mas ninguém te agüenta mais.

Você é nobre, valente, brilhoso,
Elegante, extravagante, garboso,
Esquisito e diz-se do sexo feito com animais.

Você é bizarro
Você é bizarro
Se não entende nada do que eu digo,
Dê uma olhada no dicionário.

Deborah O'Lins de Barros
Rio de Janeiro, 27/06/2000

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Adeus, Lênin - o poema que vira conto

Olha que interessante: durante o laboratório de literatura que estou fazendo o SESC, recebi uma proposta para transformar o meu poema querido "Adeus Lênin" em conto. Adorei a idéia. Então, enquanto não sai a nova versão, segue a reclamação que fiz da geração que me foi dada...



Adeus, Lênin!

A minha geração idolatra o Che Guevara
E depois acende outro Marlboro
Enquanto calça o All Star,
Ouvindo, triste e pacivamente, um pop-rock farofa.

Para a gente, Cavaleiro é coisa de Idade Média
E o Cavaleiro da Esperança, coitado,
Cheira a "Senhor dos Anéis".

Católicos fazem procição, enriquecendo - sem saber - ao Rei da Vela.
Para a gente, Clint Eastwood só é caubói no "De volta para o futuro"
E o Morgan Freeman é o eterno presidente da América.

Cada um tem o John Lennon que merece.
E eu vou ter que me contentar com o suicida de Seattle.
Vida longa ao ídolo morto.

Lênin morreu. Viva Lênin!
Agora me dá mais uma Coca-Cola.
Sou punk, viva o anarquismo. Sou comunista, estou na moda.

Mas que bela porcaria de geração que me foi dada...
Que acha que a Olga é a Camila Morgado
E que o Thiago Lacerda é o Garibaldi...

Gostaria de me revoltar, mas não tenho objetivos.
Não há mais barreiras, não há mais muros...
Tomo um gole de vodka e assisto ao Big Brother.
Lênin morreu. Adeus, Lênin!



Deborah O. Lins de Barros

terça-feira, 7 de abril de 2009

eu amo trema

Tô sabendo dessas mudanças ortográficas. Não gostei. Vão continuar chamando a fila de bicha, em Portugal. Vão continuar chamando o homossexual de bicha, no Brasil. Mas pelo menos vamos todos escrever igualzinho. Pois pouco importa o significado que damos à palavra, o importante agora, é que indepentente do que ela possa significar em determinado país, saberemos como escrevê-la. O mico de usá-la erroneamente é o de menos. :-)

Acho (sim, acho mesmo, ora bolas, qual é o problema? vai me censurar aqui também?) desnecessário. E só me preocuparei em mudar minha forma ortográfica quando isso começar a me prejudicar. Como por exemplo se eu for desclassificada em um concurso literário ou coisa assim. Por enquanto vou na contra-mão, me lambuzando com a desculpa de usar a minha amiga licença poética... Idéia! Liqüidificador! Agüentar! Arco-íris! Paranóia! Lêem! Platéia! Ah, preciso fazer uma confissão: Eu amo o trema. Vai dizer que não é um charme aqueles dois pontinhos em cima do "u"? Estou pouco me lixando se é funcional ou se já havia caído em desuso. Essa é a minha opinião. Quem me conhece pessoalmente ou textualmente sabe que sou uma saudosista nata, do meu tempo e do tempo dos outros. Então, por que não sentir saudade de regras gramaticais?

De forma alguma, proponho uma contra-reforma. Jaz aqui apenas o que penso a respeito. Se Rui Barbosa foi contra a vacinação obrigatória, no início do século XX, por que não posso me dar ao luxo de ser contra uma mudança no início do século XXI? Ah! aproveito para deixar minha indignação sobre uma expressão que poderia muito bem ser simplificada de uma vez: os porques. Ora bolas! Poderíamos ter apenas um "porque" de pergunta e outro de resposta, como no inglês "why" e "because". Não concordam que ficaria tudo mais fácil? Eu não consigo decorar nunca. Mas não, eles vão e tiram o meu trema, que não complicava a cabeça de ninguém, apenas ajudavam a pronunciar certinho...
Os seres humanos têm (com acento!) preguiça de aprender, são comodistas mesmo. O escritor e pesquisador Isaac Asimov já falou isso lá em 1985, quando editou a coletânea Histórias de Robôs (L&PM, 2007). Agora imagine, se tínhamos medo do novo, quando o novo era algo que hoje é a nossa amada tecnologia de ponta, como não vamos temer uma mudança (nem tão, se compararmos com Portugal, mas mesmo assim) radical na forma que escrevermos? Imagine só! Minha mãe ria do meu avô por ele escrever "assúcar", desrespeitando a reforma de 1943. Eu ria da minha mãe por ela escrever "professôra", desrespeitando a reforma parcial de 1971. E agora? Nossos filhos rirão de nós também! Os meus com certeza rirão dos meus acentos em "vôo", "lêem", de alguns hífens e do meu amado trema. E os seus?
Deborah O'Lins de Barros
Itajaí, 01/04/2009


Para saber sobre a(s) mudança(s) ortográfica(s), acesse:
e veja também:
http://www.filologia.org.br/revista/artigo/5(15)58-67.html (artigo: "reforma ortográfica e nacionalismo lingüístico no Brasil" - USP)
http://www.academia.org.br/ (site da Academia Brasileira de Letras)