quarta-feira, 5 de agosto de 2009

aspones da literatura?

Recebi um email bastante interessante de meu amigo Enzo. O tema é a produção literária atual. Foi irresistível, tive de responder e achei bacana postar aqui também. Então, lá vai. Os comentários estão abertos à discussão.
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carimbo
Há algum tempo tenho percebido um discurso implícito na internet. Começou no blog do Rodrigo García Lopes (1), e agora recebo essa revista on line chamada Sibila (2) que parece um almanaque de reclamações sobre literatura. Resumindo: está todo mundo muito insatisfeito com a poesia que está sendo feita atualmente no Brasil. “Poesia de bosta”, “poesia para boi dormir”, “poesia de passagem”, as expressões são inúmeras. Esse discurso também demoniza o “hoje qualquer um pode ter um blog e dizer que é poeta”; enfim, sentiram a fonte né? Falta carimbo para eles.
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Eu estou sossegado porque muito do que conheço de gente viva escrevendo me agrada. E poetas de blog sim, desses que não se acham facilmente nas livrarias. Aliás, se forem olhar para as livrarias... E graças a Deus a maioria dessas pessoas não são como Hilda Hilst que ficava gritando para os cachorros: “eu sou maravilhosa! eu quero ser reconhecida! ninguém nunca fez na literatura algo como o que EU fiz!”.
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Isso me parece tão estúpido quanto um avesso, como aquelas pessoas que dizem ser o Hino Nacional Brasileiro o mais belo do mundo sem conhecer os outros. Ta aí a palavra mágica: conhecer. E não reconhecer. Olha, hoje eu não estou com paciência, mas um dia eu vou fazer uma lista de mil nomes da literatura que não foram reconhecidos em vida, e que com certeza deixaram a cena literária uma “bosta”, “para boi dormir”, “de passagem”.
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Tenho dito.
Att
Enzo Potel
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* (1) “Um abraço para você, Leminski, esteja aonde estiver. Você faz uma falta danada nestes tempos de caretice e poesia chata para caralho.” Domingo, Junho 07, 2009 http://www.estudiorealidade.blogspot.com/
(2) http://www.sibila.com.br/index.php/home

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carimbador maluco
É aquela coisa né, Enzo... as pessoas gostam de frases impactantes, neologismos em rimas escalafobéticas e um nome de respeito assinando tudo.
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Na Idade Moderna houve um cara que resoveu dar nome aos bois: e daí surgiu o período que hoje entendemos por Pré-História, Idade Antiga, Idade Média... Será que a geração 45 sabia que ia receber esse nome? e o pessoal que viveu em 1968, sabia de antemão que esse foi o "ano que não terminou"?
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Não coloquemos a carroça na frente dos bois! A nossa geração é nova ainda, nossa literatura ainda está fresca, não consolidada. Então é estupidamente errôneo que fiquemos reclamando, chamando tudo de idiota. Sim, eu concordo que muitas das coisas são feitas para serem vendidas, mas meu blog e o de muitos outros escritores não possui textos marketeiros.
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O nosso problema é que queremos criar algo totalmente novo. Não dá para resolver assim, sem mais nem menos. O novo aparece, simplesmente. E aí, como o "novo" ainda não apareceu (ou não foi "reconhecido"), ficamos saudosos de gerações que não pertencemos. É claro que eu adoraria ter vivido entre Oswald e Mário de Andrade. É claro que eu gostaria de ter sido a Pagu. Mas não vivi, não sou. Sou a Deborah. e minha poesia é digna e invendável (no sentido best seller da coisa).
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Não queiram ser quem não são! Não queiram ressussitar os poetas-mortos!! Paciência! Sabedoria! E o mais importante de tudo: LEIAM E ESTIMULEM O PRÓXIMO A LER TAMBÉM!!!! Senão seremos lembrados como a GERAÇÃO QUE NÃO FEZ PORRA NENHUMA A NÃO SER RECLAMAR DE BARRIGA CHEIA.
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Tenho dito.
Carpe diem,
Deborah O'Lins de Barros

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

um conto curto para uma tarde ensolarada

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o pedido
Avisou para a família que quando morresse, gostaria de duas coisas: doar os órgãos e quem ninguém usasse preto no velório. Pouco tempo depois, morreu. O acidente de carro foi tão horrível que nenhum órgão pôde ser aproveitado. Amigos e familiares resolveram homenageá-lo indo ao enterro usando, cada um, uma cor diferente. A viúva, não sabendo qual escolher, resolveu ir de branco. E nem lembrou que sua camisa carregava todas as cores do arco-íris.
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