terça-feira, 7 de abril de 2009

eu amo trema

Tô sabendo dessas mudanças ortográficas. Não gostei. Vão continuar chamando a fila de bicha, em Portugal. Vão continuar chamando o homossexual de bicha, no Brasil. Mas pelo menos vamos todos escrever igualzinho. Pois pouco importa o significado que damos à palavra, o importante agora, é que indepentente do que ela possa significar em determinado país, saberemos como escrevê-la. O mico de usá-la erroneamente é o de menos. :-)

Acho (sim, acho mesmo, ora bolas, qual é o problema? vai me censurar aqui também?) desnecessário. E só me preocuparei em mudar minha forma ortográfica quando isso começar a me prejudicar. Como por exemplo se eu for desclassificada em um concurso literário ou coisa assim. Por enquanto vou na contra-mão, me lambuzando com a desculpa de usar a minha amiga licença poética... Idéia! Liqüidificador! Agüentar! Arco-íris! Paranóia! Lêem! Platéia! Ah, preciso fazer uma confissão: Eu amo o trema. Vai dizer que não é um charme aqueles dois pontinhos em cima do "u"? Estou pouco me lixando se é funcional ou se já havia caído em desuso. Essa é a minha opinião. Quem me conhece pessoalmente ou textualmente sabe que sou uma saudosista nata, do meu tempo e do tempo dos outros. Então, por que não sentir saudade de regras gramaticais?

De forma alguma, proponho uma contra-reforma. Jaz aqui apenas o que penso a respeito. Se Rui Barbosa foi contra a vacinação obrigatória, no início do século XX, por que não posso me dar ao luxo de ser contra uma mudança no início do século XXI? Ah! aproveito para deixar minha indignação sobre uma expressão que poderia muito bem ser simplificada de uma vez: os porques. Ora bolas! Poderíamos ter apenas um "porque" de pergunta e outro de resposta, como no inglês "why" e "because". Não concordam que ficaria tudo mais fácil? Eu não consigo decorar nunca. Mas não, eles vão e tiram o meu trema, que não complicava a cabeça de ninguém, apenas ajudavam a pronunciar certinho...
Os seres humanos têm (com acento!) preguiça de aprender, são comodistas mesmo. O escritor e pesquisador Isaac Asimov já falou isso lá em 1985, quando editou a coletânea Histórias de Robôs (L&PM, 2007). Agora imagine, se tínhamos medo do novo, quando o novo era algo que hoje é a nossa amada tecnologia de ponta, como não vamos temer uma mudança (nem tão, se compararmos com Portugal, mas mesmo assim) radical na forma que escrevermos? Imagine só! Minha mãe ria do meu avô por ele escrever "assúcar", desrespeitando a reforma de 1943. Eu ria da minha mãe por ela escrever "professôra", desrespeitando a reforma parcial de 1971. E agora? Nossos filhos rirão de nós também! Os meus com certeza rirão dos meus acentos em "vôo", "lêem", de alguns hífens e do meu amado trema. E os seus?
Deborah O'Lins de Barros
Itajaí, 01/04/2009


Para saber sobre a(s) mudança(s) ortográfica(s), acesse:
e veja também:
http://www.filologia.org.br/revista/artigo/5(15)58-67.html (artigo: "reforma ortográfica e nacionalismo lingüístico no Brasil" - USP)
http://www.academia.org.br/ (site da Academia Brasileira de Letras)

3 comentários:

Ricardo Steil disse...

Deborah, primeiramente felicito-a pelo novo blog, ao qual faço votos de muito sucesso - do mesmo modo que, fora o anterior, o que é mais do que provável, em vista do seu talento. Realmente, estas alterações no vocábulo pátrio vão nos causar - escritores que ainda seguem os padrões antigos - alguns transtornos. Nos últimos tempos, tenho tirado algumas horas no intuito de reaprender o que outrora tinha algum domínio. Não está sendo fácil. Talvez a maior lição que James Joyce tenha nos deixado - desculpe por citá-lo, mas como bem sabes, sou apaixonado pelo trabalho dele - o que vale não são os acentos, tão pouco pontos, vírgulas, hífens, tremas, mas o conteúdo em si. Talvez daqui a duas ou três gerações, estas novas regras válidas se façam. Todavia, descreio que isto ocorra - com força - pelo menos nesta próxima década que logo dara-se início. Boa semana.

Marco Gaspari disse...

Cara Deborah, fique tranquila (sem trema), é natural numa reforma a gente xingar o mestre de obras (sem hífen). Parabéns pelo novo blog.

Hélio Jorge Cordeiro disse...

Parabéns pelo seu novo blog; bem apanhado, sem muita poluição, mais fácil de visualizar.

Quanto as modificações na língua portuguesa, bem, eu já nem me preocupava muito com a dita velha senhora, magina agora!

bjs